Aída Boal é atemporal, assim como a sua arquitetura e o seu mobiliário. Suas criações serão eternamente contemporâneas, talvez, porque Aída pertença a uma geração de mulheres que ousou entrar no campo da arquitetura, até então restrita somente ao universo masculino. Conheci pessoalmente, quando a convidei para expor na Mostra Arquitetos que fazem Design-mobiliário em 1998, descobri então o ser humano belo e sensível que todos admiram.

Maria do Carmo Maciel Di Primio, arquiteta

 
 

 

 

 

Irmã do dramaturgo Augusto boal, ainda trabalha como arquiteta desde os tempos da faculdade, projetando e construindo residências e prédios, e gosta de destacar entre seus projetos o da restauração do Convento do Carmo, que executou a convite do professor Cândido Mendes, e que recebeu aprovação do arquiteto Lucio costa.

Seus projetos de arquitetura sempre privilegiaram a madeira e ainda aos poucos descobriu que “com uma serra elétrica é possível fazer um sofá”.

Montou então uma oficina onde, há 25 anos, pesquisa formas que aliadas ao conforto, resultam em móveis surpreendentemente simples porém harmônicos e confortáveis. Grande admiradora de Sergio Rodrigues, Aída reconhece uma

 

certa influência dele e do estilo Bauhaus em seus primeiros trabalhos.

“Sérgio era o meu guru. Entretanto, com a continuidade do meu trabalho com móveis, parei de observar, ler ou mesmo ver qualquer outro design. Queria ter o meu próprio percurso, sem influência de pessoas ou escolas."

Trabalhando sempre com madeiras nobres – jacarandá e pinho de riga enquanto existir e atualmente com mogno e cerejeira – seus primeiros trabalhos privilegiavam as linhas retas. Aos poucos foi se interessando pelas curvas, linhas mais sensuais e em harmônico com as curvas do corpo humano. Talvez por ser mulher, como diz, Aída sempre trabalhou linhas lisas e simples “sem aquelas firulas que dificultam a limpeza e conservação”.

Perfeccionista, Aída começou seu trabalho de criação apenas imaginando formas e volumes. Quando uma linha harmônica desperta sua atenção, vai então para a prancheta desenvolvê-la, levando sempre em conta, no caso de suas cadeiras, as curvas do corpo humano e o conforto a elas necessário. Cria então um protótipo muitas vezes testado e adaptado para aliar o conforto à harmonia da forma inicialmente imaginado.

Com esta exposição, onde mostrará os móveis que criou ao longo destes 25 anos, além dos projetos atuais, Aída Boal pretende integrar-se profissionalmente também ao design brasileiro, que considera de padrão internacional, apesar de pouco divulgado.

Suzana Amado

 

 

 

 

 

 

 

As versáteis obras de Aída Boal não exprimem apenas bem caracterizadas concepções de desenho industrial por seu lúcido senso de harmonização da exata proporção estrutural com conveniente comunicabilidade estética e eficaz funcionalismo utilitário.

Porque, como exemplares de satisfatórios usos prosaico e ornamental, integram, com justeza e apropriadamente, uma elegante e suave simplicidade de formas e volumes construtivos com um bom gosto estilístico ciosamente depurado, sóbrio, gratificante, as suas produções são mais que suficientes soluções pragmáticas para heterogêneas necessidades e exigências de comodidade e conforto.

A adequada conjunção, nas diversificadas compleições das suas peças, de exeqüível emprego prático e efetiva aplicabilidade decorativa, valorizando-as com a categoria de objetos ambientais dotados de consistente e marcante qualidade artística, propicia um prazeroso e agradável relacionamento cultural com suas expressividades visuais e seus usos cotidianos.

O conceito de móvel com objetiva utilização, que Aída Boal propõe atendo-se não só ao determinante requisito da imprescindível boa funcionalidade, mas também ao da deleitável fruição estética, é coerente conseqüência da sua pratica profissional da arquitetura, bem como da sua acurada sensibilidade de programadora visual e artista plástica talentosa. Tanto quanto concebe seus moveis com dimensões, formatos e pesos desde a previsão das suas amplas possibilidades e mobilidade e aproveitamento espaciais, Aída Boal também define suas materialidades, conformações e respectivos efeitos visuais considerando a correlação do rendimento estético com contingências composições ambientais. Com intuitiva desenvoltura, Aída Boal articula o movimento, a flexibilidade e a graciosidade das linhas curvas e sinuosas com a logicidade o a estabilidade do geometrismo das retas, quadrados, triângulos, círculos, ovais, originando uma essencial síntese de estilos em que transparecem sutis alusões à racional regularidade clássica, à emotiva organicidade barroca colonial, à ritmada plasticidade do “art-decô” ao conciso despojamento formal Bauhaus. A par com sua condição de produto próprio para satisfação trivial, o móvel é apreciado, admirado e encarecido como uma espécie de espetáculo, meio de estabelecer uma lúdica relação intima com a pessoa, que o torna quase uma parte da sua subjetividade.

João Carlos Cavalcanti

 

Sempre dei força à Aída.

Não só por se tratar de uma querida amiga, mas porque acreditava na sua capacidade realizadora. Sem estar atrelada a modismo, dedicou-se com entusiasmo a uma tarefa em que poucos são reconhecidos: a pesquisa de mobiliário.

O escrúpulo exagerado impediu Aída de desenvolver há mais tempo vários protótipos, por entender que poderiam ser considerados interpretações de modelos já consagrados. Finalmente percebeu que a influência sofrida pelo verdadeiro criador é inconsciente, não existindo nenhum demérito em se pertencer a essa ou aquela escola, desde que se respeite a criação de seu fundador.

O trabalho de Aída, ora apresentado, representa mais de 25 anos de experiências, com o grande mérito de ter chegado a esse ponto, numa oficina montada por ela própria com muito carinho.

Autodidata, Aída foi sua própria mestra.

Avante Aída.

Sergio Rodrigues

 

Os móveis da Aída – apesar do seu nome – não são faraônicos: sua riqueza consiste em despertar memórias emotivas, tempos felizes; sua mesa lembra convívio, amigos, família; sua poltrona, descanso e prazeres.

Seus móveis são belos, valiosos e vivos. Por isso são de madeira, que é vida.

Augusto Boal

Há artistas que são artesãos. Por trás de todo artesanato, utilitário ou não, existe arte, sensibilidade e emoção. E há artesãos que são verdadeiramente artistas.

Aída Boal, se insere como poucos nesta categoria. Com formação de arquiteta e delicadeza de escultora compõe cada peça com fino traço.

Há vida nos móveis, (esculturas?) de Aída Boal. A cada peça corresponde um personagem da biografia desta artesã.

Artesã-Artista, depois de décadas manejando a régua, solta o traço e impõe as cores. A arquiteta lentamente metamorfoseia-se em artista. Para o deleite de nossos olhos.

Cândido José Mendes de Almeida

 

Dentre os arquitetos cariocas que contribuíram para desenvolvimento da mobília moderna brasileira, vale ressaltar a obra de Aida Boal (1930)

Formada na Faculdade Nacional de Arquitetura, sob o clima renovador dos anos 50, Boal iniciou sua produção em pequena escala e paulatinamente seus produtos ganharam reconhecimento do mercado.

Maria Cecília Loschiavo, escritora

 
 
 
 
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